a gente faz o que
tem que fazer
daquilo que aceita
fazer do jeito que dá
pra fazer a gente faz

reconhecimento

eu nunca
       vou fazer
nada decente,
você sente
o descenso dessa alma
       pra nada,
além da nulidade?

eu não sou
do feitio
do bem feito
do respeito
do outro
que é

eu não sou
       de um surgimento
milagroso e, grosso
só, não sou
       de nenhum momento
um vento

leve, doce, simples
       acontecimento

escrever
um poema é
como fazer
sexo

vamos
pelo toque e
o ritmo do
corpo

tremendo
o sentido da
língua do
nexo

tocando
na superfície
do profundo
outro

Meia noite e
meia, Santo André piscina
cheiro de cloro
nas escadarias da estação
Prefeito Celso Daniel.
Outro dia
começou pra quem acabou
de acordar, e eu que não
acabei o meu.

eu perdi meu coração
              no cruzamento
da Ipiranga com a São João
era um dia ensolarado São Paulo
as seis um tufão e
eu olhava o tráfego
pesado por onde tráfico
os sentimentos da cidade
eu perdi meu coração
              na estação consolação
desci na Rua Augusta
em direção a praça Rooselvet
me abraça, me assusta
a grande prostituta com
um grande coração
São Paulo é uma puta
de luxo que nos chuta

Sumi na curva do mundo
indigente viado aidético imundo
subi na calda de uma estrela cadente
e na boca do universo vendi os dentes
sumi demais na frente de todos
um fantasma tão crente nos tolos

Anormal sensitivo chorei
lágrimas diamantes sintéticos
e uma língua amarga de prata
para lamber todos corpos sudorese paulistas de verão
Eu sou menos demais e quem olha nem vê
três copos de cachaça nega fulô e um amor de cinco segundos
quando o metro for embora sobrará somente

o vazio e a lembrança
é mais do que o mundo
merece.

tudo pode ser
quando eu e você
somos nós

um galho seco
quebrando, o eco
ressoa no beco
vazio da boca

palavras fogem
me afago e
te afogo na
saliva do não

não há perdão