a flor que nasce do lixo
é uma flor, como qualquer
outra flor, de vão capricho
ou lapso, nem dor sequer.
tive a ilusão
de ser rockstar,
um amante dândi
de Rimbaud ou Wilde,
tive a ilusão
de ser intelectual,
apóstata delirante,
tal Diógenes,
Nietzsche,
e Dante
enfim acordei em São
Paulo sendo um entre onze
milhões de perdidos
entre carros e estradas,
guiando para o nada.
enfim acordei e são
vagas minhas palavras.
nada sou,
e nunca serei,
do nulo encubro
e dele sou rei.
dolo doce
doloroso
difícil edifício
construção
constritiva
ilusão constante
da absolvição
possível da
compulsão
passível de
pedir e
perder
perdão
com culpa,
compaixão
covarde
assumo a culpa
mas não a pena,
apenas sumo, nisto
desculpas, insisto
da absolvição
será a pena
premissa ou
pregressa ao
prescrito
perdão?
acidente
carro a cento
e vinte quilômetros
por hora, um trem
descarrilando em
alta velocidade
metal contor-
cendo-se, grave-
to reluzente,
cessando a gravi-
dade diante
a brusca acelera-
ção caótica, a
carótida cin-
dida, divi-
dida
da vi-
da.
fugir
ainda mudo
para o mato
ou me mato.
quem sou
sou fracasso
crasso, ou acho
que sou.
me diz,
há coisa
mais bela
que um poema
com tripas
de fora?
a desforra
do crítico
contra o autor,
cítrico limão
na carne aberta
da tessitura
do texto
destrinchado.
a derrota
das rotas
que seguiam
as palavras
mapeadas
e arpeadas
do mar
estéril
do natimorto
poema
ressuscitado
na citação
destruição
de um leitor
frustrado
contra o atentado
tentativa
falha de poesia
Quem tem boca diz o que
questiona, pobres ouvintes
desavisados porque
não anteciparam o seguinte
som de dúvida, sentença
sem certeza ou beleza,
questão de sentido, tensa
de vida, sempre fraqueza
de não usar boca e a língua
na pele da carne, tece
o arrependimento, vinga
o silêncio, apenas cresce
permanentemente surdo
ao propósito absurdo
do turvo
tudo.
de erro em erro
me aproximo do acerto
de contas derradeiro.
o trabalho
) liberta (
o horror