O mato seco áspero
balança com o vento gélido
e dos galhos tristes
cem folhas alaranjadas
caem como lentas gotas
no concreto do pátio
da Escola técnica
Lauro Gomes.

Meu sorriso manchado
tão pleno de alegria
olha crianças correndo
e as espinhas do meu rosto
tinham a importância
que minha mãe desejava
que eu desse ao boletim

Os sons de carros passando
soam como ondas
de um mar distante
entre conversas
sobre coisas que não
compreendemos, que não
compreenderíamos jamais.

Galpões cheios de salas,
de carteiras e cadeiras.
lousas negras de frente
ou de lado para janelas amplas
e um verde florescente por todas
as paredes refletiam no piso
de cerâmica de baixa qualidade.

Jovens impacientes, professores
frustrados, desenhos mal feitos
e frases sem nexos nos tampos
das carteiras da escola.
Havia o cheiro que vinha
do refeitório, próximo
do horário do almoço, do fim
de um período, para o inicio
de mais quantos outros na tarde.

Sentávamos em bancos a sombra,
vendo o movimento entre as trocas
de aulas, dizendo diversos gêneros
de comprimentos, a distância,
abraçados, caminhando lado
a lado, conversando em bando,
ou intimamente sobre bandas,
cantores e filmes, ou provas
de matemática, de ciências,
de artes, de português, de amor.

Quem vai para onde, como
e quando, “de que jeito se
precisa acertar mais de sessenta”
USP, Unicamp, Universidade
de São Carlos ou do ABC,
a que der pra passar, pra ser
feliz nas aulas, depois
no trabalho, depois,
e mais importante, na vida.

Era tão grande
do tamanho do mundo
e cabia num instante,
do microssegundo,
do macro, cosmo do nada
que era o futuro sem nós
Não éramos felizes
não éramos coisa
alguma de definida,
mas podíamos ser
tudo, qualquer coisa
o que queríamos.

vou,
romper o laço,
ao pular da ponte,
com a cor-
da no pescoço,
nos ombros
o peso
do mundo
faz o mun-
do rachar,
achar o fim.

eu não tenho
tempo para poesia
no dia de hoje
na noite de ontem

eu não tenho
poesia para o tempo
que sobra
entre um trabalho
e a obrigação
de dormir cedo

Eu não tenho
um temperamento
que ajude nos dias
sem poesia
Nos dias de trens
metros, ônibus
e outras conduções
coercivas a vida

Eu tenho só tempo
de tempestade,
sem poesia
é o que me cabe

as pessoas se encheram
    de mim e eu
delas

cada qual no seu canto
sem vistas ou palavras
trocadas, somente cada um
na sua, dividindo o sol
na cabeça e o chão
no pés

as pessoas de mim se
    encheram, delas,
eu

cada um no seu
canto separado
cada um com sua
oração ao deus
que o ouça

Suas tretas
guardadas em
    trouxas
seus tesouros
pesados, hematomas
    roxos

Cada um que
sabe da sua se encontra unido
na ignorância do outro
separado nas tramas do mundo
ligando os
pontos de
redes de
celulares mudos sem
toques ou chamadas as
três da manhã

Sem segredos
sagrados
dados, sem olhares
cruzados, sobrados vazios
no interior do estado
sem visitas em feriados
sem trabalho

cada um
na sua condução lotada
espremido juntos com
cada um
na sua condição isolada
somado a massa de
todos vivendo cada
um

na sua,
cheias de mim
e eu delas