quem fala e
o que diz do que fazer nas
tevês sintonizadas nas
notícias matutinas e os
trânsitos das sete, são
figuras comuns, como
o serviço de doze horas, como
a comida azeda das oito, como
o sexo com horário marcado.
a cidade diária apenas é
vivida por exceções, que pedem
comidas vindas por motocicletas
com motores que vão de zero
a cem mortos por dia
nas marginais assassinas sem
sentimentos de dores
que ligam o sul ao norte
e poluem ares e rios, por aqueles
que sobrevivem mandando
mensagens em garrafas vazias
com baterias de lítio
e multimídias, hipertextos de
ilhas, arquipélagos paradisíacos, de
pessoas presas nos vagões da CPTM, entre
uma parada não programada e outra, dentre
a distância de Celso Daniel à Brás, para
quem sente o lado de fora
que fede, o córrego Tamanduateí, que
      em seu negrume cultivado por
      encanamentos clandestinos disfarçados por
      indústrias progressivamente automatizadas por
      seres supostamente humanizadas,
margeia a ignorância paulista
que ignora crianças, camelôs, mendigos
e injustiças sociais
e justiças sociais
e intervenções sociais
e abraços sociais de
quem tem que chegar
em algum lugar que faz ter
dinheiro para, dever no banco
de financiamentos apertados
como os prazos e quartos,
viver antes de dormir e
trabalhar, sonhando, quem sabe
um dia qualquer desses ganhar
na loteria em um bolão, ou só
sentar sem se preocupar e
não dever no banco
      quem levanta a cabeça
      e olha reto no olho da vida,
do carro, da polícia, do doutor
do fiscal, pastor ou político de toda
parede burocrática, conservadora que
existe somente na lógica de
preservar a própria existência, ainda que
dificulte a vida ou proíba a
quem tem vontade e
coragem de viver, pecado
capital, em São Paulo

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